João Pombeiro (Leiria, Portugal) propõem-nos um truque de magia, um jogo entre o aparente e o real, entre o que é observado e o que é aceite como verdadeiro. Este jogo assume a forma de uma gravação de uma entrevista de trabalho na qual a habilidade do entrevistado consiste em desaparecer. Este trabalho lembra-nos Méliès e o seu stop trick, um singelo truque em que um objecto se torna invisível mediante um corte na filmagem. Mas aqui não se trata duma ficção, mas sim de uma cena real. Enquanto no cinema esperamos feitos fisicamente impossíveis, nos vídeos caseiros, que são o reflexo do dia-a-dia, o desenlace resultante surge tão inesperado como absurdo. Criado inicialmente como simples testemunhos do quotidiano, descobrimos que os utensílios criados para descrever a realidade também podem manipulá-la.
?Interview? torna-se então numa metáfora dos média mas num disfarce contemporâneo. Tal como os primeiros espectadores fugiram da sala de cinema com medo de serem atropelados por um comboio que se dirigia na sua direcção a grande velocidade, nós assistimos impavidamente a uma clara manipulação do quotidiano. A grande diferença é que aqui nunca se vai confessar que existe truque algum, e que tal como eles nos querem fazer crer, e que aqulo que vemos é um mero reflexo da realidade. E, ainda que o velho truque de Méliès resulte descaradamente basta sentarmo-nos em frente ao televisor para comprovar que as mentiras em que acreditamos hoje, tal como a procura de armas de destruição em massa inexistentes, são ainda maiores.
João Pombeiro (Leiria, Portugal) offers us a magic trick that plays on the gap between what is apparent and what is real, between what is seen and what is taken as being true. This game takes the form of a recorder job interview in which the interviewee?s skill is to disappear. The work is reminiscent of Méliès and his stop trick, in which an object becomes invisible simply as a result of cutting out a frame in the film. In this case, however, it is no fiction, but rather a real scene. Whilst with films we expect to see things that are physical impossibility, when it comes to homemade videos, which are a reflection of everyday things, this outcome proves to be as unexpected as it is absurd. To our surprise, we discover that something initially created as a means of providing a simple testimony of our daily life can also serve to manipulate it. ?Interview? thus becomes a metaphor for the communications media, but in modern guise. Just as the first film audiences fled in terror, convinced that they were going to be run over by a train that came speeding towards them, so we unblinkingly contemplate an obvious manipulation of daily reality. The great difference is that in this case nobody is ever going to confess that the trick exists, wanting us, as they do, to believe that what we are seeing is nothing but a reflection of reality. And, although Méliès old trick is rather a brazen one, we only have to sit front of the TV to realise that the on-screen lies that we believe nowadays are much bigger than that, such as the search for non-existent WMDs as a justification for destroying an entire country.