7.1.05

Project Room - C.A.V.


João Pombeiro (Leiria, 1979) studied Fine Arts at ESTGAD School, in Caldas da Rainha. His appearances in exhibitions have been few up to now. However, his production already shows signs of a maturity expressing an authorial mark. Proof of this is his recent exhibition held at 24b Gallery, in Oeiras, as well as his participation in the exhibition “Portugal: 30 artists under 40”, at Sternesen Museum, in Oslo. Thus, within the scope of its Project Room programme, the CAV is presenting a video of his, Schizo (2001-2002), contributing towards the divulging of his work and its respective greater critical, institutional and public recognition.

João Pombeiro´s practice encompasses several different media, raging from painting to sculptural interventions and including video and web design. However, whatever the mean of expression used, one can note a constancy of problematics that arise from an analysis of the scopic regime of mass culture that characterizes contemporary society, carried out through the recycling of the tendencies and genres of post-war fine arts, among which visual poetry and pop figuration stand out. In fact, the artist’s creative process rests on two strategies based on an awareness of the excess of images defining today’s everyday life: on the one hand, there is the appropriation of symbolic elements populating the western imaginary, whether these are films, advertising brands or others; on the other hand, there is the transformation of the materials appropriated to a logical of irony, which not only subverts its original principles but also converts them into objects with other meanings.

I’m waiting for my man (with $34 in my hand) (2000) and Untitled (2004) are two works exemplify João Pombeiro´s activity. The first is a wall sculpture that consists of the superimposing of thirty-four small canvas painted serygraph6y techniques and representing a one dollar bill. The second is a painting in witch there is a white canvas from which emerges a phrase painted in a black in a mirror effect, “ART IS A MIRROR THAT NEVER LIES”. In both cases one is faced with linguistic signs that not only  state but also decode power and the ideologies that support it into two systems of society, political sphere and the art world.

Schizo synthesizes João Pombeiro´s conceptual device, as the artist, with this piece, on the one hand reflects about the meaning of memory in the construction of collective identity and its anchoring within a popular-based overall imagery and, on the other hand, examines the specific mechanisms of video as a medium and its relationship with the tradition of cinema. This takes place trough the reviewing of a famous scene from the movie North by Northwest, by Alfred Hitchcock, which consists of the eliminating of the plane that chases the main character in the middle of a barren landscape, of the reediting of some shots and the introducing of a new soundtrack. There is thus the provoking of a sensation of strangeness on the part of the viewer in the sense that he recognizes the actor playing the part, Cary Grant, as well as the setting, but feels that he is subtracted  from something which gives meaning to what he is seeing, whether or not he is familiar with the scene, given that he now does not know the reason for the man’s behavior, as he is running away from nothing.

Miguel Amado
January 2005

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João Pombeiro (Leiria, 1979) estudou Artes Plásticas na ESTGAD, nas Caldas da Rainha. O seu percurso expositivo é ainda curto. Contudo, a sua produção revela já sinais de maturidade, que manifestam marca autoral. Comprova-o a recente exposição individual realizada na Galeria 24b, em Oeiras, bem como a participação na exposição «Portugal: 30 artists under 40», no Stenersen Museum, em Oslo. Assim, no âmbito do programa Project Room, o CAV apresenta um trabalho seu, Schizo (2001-2002), contribuindo para a divulgação da sua obra e respectivo maior reconhecimento crítico, institucional e público.

A prática artística de João Pombeiro compreende diversos média, desde a pintura a intervenções de carácter escultórico, passando pelo vídeo ou o webdesign. Porém, seja qual for o meio de expressão empregue, nota-se uma constância de problemáticas que releva de uma análise do regime escópico da cultura de massas que caracteriza as sociedades contemporâneas, efectuada através da reciclagem de tendências e géneros das artes plásticas do pós II Grande Guerra, de entre os quais sobressaem a figuração pop e a poesia visual. De facto, o processo criativo do artista assenta em duas estratégias alicerçadas numa consciência do excesso de imagens que define a vida quotidiana de hoje: por um lado, a apropriação de elementos simbólicos que povoam o imaginário ocidental, sejam filmes, marcas publicitárias ou outros; por outro lado, a transformação dos materiais apropriados via uma lógica de ironia, que não só subverte os seus princípios originais como os converte em objectos com outros significados.

I´m waiting for my man (with $34 dollars in my hand) (2000) e S/título (2004) são dois trabalhos que exemplificam a actividade de João Pombeiro. O primeiro é uma escultura de parede que consiste na sobreposição de trinta e quatro pequenas telas pintadas com recurso a técnicas serigráficas representando a nota de dólar. Quanto ao segundo, trata-se de uma pintura na qual emerge de uma tela de fundo branco uma frase pintada a preto em efeito de espelho, «ART IS MIRROR THAT NEVER LIES». Em ambos os casos está-se perante signos linguísticos que não só enunciam como também descodificam o poder e as ideologias que o sustentam em dois sistemas societais, a esfera política e o mundo artístico.

Schizo sintetiza o dispositivo conceptual de João Pombeiro, pois o artista, com este trabalho, por um lado reflecte acerca do significado da memória na construção da identidade colectiva e da ancoragem desta numa imagética global de matriz popular e, por outro lado, examina os mecanismos específicos do vídeo enquanto médium e a sua relação deste com a tradição do cinema. Tal ocorre através da revisão de uma célebre sequência da película cinematográfica North by Northwest, de Alfred Hitchcock, que consiste na eliminação do avião que persegue a personagem principal no meio de uma paisagem inóspita, na remontagem de alguns planos e na introdução de uma nova banda sonora. Provoca-se assim uma sensação de estranheza junto ao espectador, na medida em que este reconhece o actor que interpreta o papel, Cary Grant, bem como o cenário, mas sente-se subtraído de algo que atribuía sentido ao que se vê, seja ou não familiar com a cena, dado que é agora desconhecida a razão do comportamento daquele homem, que agora foge de nada.


Miguel Amado
Janeiro 2005